É impossível viver ou passear pela Galiza, pelo menos por uma parte dela, sem se ter presente a raiz comum das línguas galega e portuguesa, a mesma língua, o galego-português, cujos primeiros registos escritos datam de inícios do século IX e cuja separação a constituição de Portugal enquanto nação, no século XII, acabaria por ditar. Deste modo, também é impossível fazer um retrato das paisagens linguísticas da Galiza sem falar no português. Sim, ele parece estar por todos os lados; a começar pela reivindicação da recuperação do seu lugar pelos defensores do movimento social chamado “luso-galeguismo”, vulgo, reintegracionismo.
Há murais que são muito comuns um pouco por toda a Galiza e que disso são bom exemplo, assim como da “proteção” do galego face ao espanhol.
A verdade é que na Galiza há uma discussão acérrima sobre se o português e o galego ainda são a mesma língua nos dias de hoje. Não pretendemos contribuir para esse debate, mas aquele que é conhecido como o português arcaico, mantendo-se sempre próximo do galego-português original, foi-se naturalmente transformando e vigorou apenas até inícios do século XVI. Sabe-se que o português evoluiu, depois, entre os séculos XVI e XVIII para o português moderno como hoje o conhecemos. A História da Língua Portuguesa pode ser lida em obras como a de referência: Curso de História da Língua Portuguesa de Ivo Castro, 1991.
Tal como acontece em muitas das autonomias espanholas, na Galiza há duas línguas oficiais, quer o espanhol (castelhano, para os galeguistas), quer o galego partilham esse estatuto. A convivência entre o galego e o espanhol é, no entanto, algo desigual por todo o território galego e a paisagem linguística é disso prova. À exceção da capital, Santiago de Compostela, as demais grandes cidades são, maioritariamente, mais castelhanizadas, sobretudo a Corunha, a norte e Vigo, a sul.
Por exemplo, ao nível da sinalética de estradas, locais turísticos e de interesse, assim como aeroportos, verifica-se uma grande miscelânea, não havendo um uso exclusivo do galego, sendo maioritariamente o espanhol a língua usada. Na capital, há um notório domínio das indicações em galego e, no geral, as orientações do governo galego são para que haja uniformidade, também devido ao turismo, mas a mesma ainda não se verifica sempre. Há mesmo situações em que se misturam as duas línguas.
A par com essa realidade, coexiste ainda a versão reintegracionista do galego, aquela que vai buscar à ortografia moderna do português a sua base e ainda uma outra versão que usa uma grafia normalizada do galego-português arcaico. Estas últimas aparecem sempre mais associadas a divulgações de cariz académico, cultural e/ou relacionadas com reivindicações políticas e sindicalistas.
O incentivo institucional para se falar e escrever em galego é muito notório, os projetos multiplicam-se, existindo em cada município, freguesia e da parte do governo galego, organismos de política linguística, para esse efeito; mas bastante controvérsia também, não estando muitas administrações locais de acordo com a imposição linguística da língua galega.




Apercebemo-nos disso e de que há uma grande discrepância entre a presença do galego a nível institucional (que, não sendo omnipresente, é frequente, motivada e exigida) e a nível privado, nos letreiros e indicações de restaurantes, lojas, montras, bem como nos produtos galegos, por exemplo.
Carla Sofia Amado, 05.12.2020 (sofiamado@gmail.com)
Nota da autora: Algumas fotografias incluídas neste artigo pertencem ao projeto “El paisaje lingüistico en Santiago de Compostela”, acessível em: https://paisajelinguistico.wordpress.com/category/el-paisaje-linguistico-en-santiago-de-compostela/ [consultado a 05.12.2020].