Na cidade de Maputo vivem várias comunidades Indo-moçambicanas, de origem indiana ou paquistanesa, que falam o português e/ou o inglês, mas também algumas línguas Indo-arianas, nomeadamente o gujarati, o urdu, o hindi, o marwari, o kutchi, o memane e o konkani.
Algumas destas línguas não são visíveis nas paisagens linguísticas da cidade, quer porque não têm sistemas ortográficos (por exemplo, o memane), quer porque os seus falantes nunca foram alfabetizados nestas línguas.
Porém, há duas línguas que se marcam a sua presença nas paisagens linguísticas do mosaico multilinguístico da cidade, ainda que em contextos muito particulares: o hindi e o urdu.
A principal atividade dos indo-moçambicanos é a prática do comércio. Por essa razão, os nomes de muitos dos estabelecimentos comerciais de venda de produtos (mercearias, casas de ferragens, bottle stores, tabacarias, papelarias, casas de venda de candeeiros e material elétrico) revelam a origem indiana, muçulmana ou hindu, dos seus proprietários. O mesmo acontece com estabelecimentos de prestação de serviços variados, como as alfaiatarias, os serviços de câmbios, os consultórios médicos e as empresas de advogados. É interessante notar que nomes dados são, na maior parte dos casos, nomes masculinos de família, ou seja, apelidos ao qual se acrescenta “Lda” ou “ & Ca,” indicando que a propriedade é colectiva. A acentuar a mensagem de uma propriedade marcadamente masculina, a cor dominante dos estabelecimentos parece ser o azul. Vejam-se, como exemplo, os primeiros cinco estabelecimentos das fotografias 1-6.






Há, no entanto, casos de nomes próprios, sobretudo no caso de estabelecimentos com nomes femininos e de venda de cosméticos, roupa, calçados, produtos de cabelo, ou cabeleireiros e serviços de SPA. Nestes casos, são usadas cores mais suaves e associadas ao mundo feminino, como o branco, o lilás, o rosa e o amarelo. Vejam-se os exemplos abaixo nas fotografias 7-9. Estas imagens revelam também uma tendência para apresentar os nomes em inglês (Rayhaan nail spa, Sasha’s boutique, Faira fashion), o que evidencia o prestígio desta língua estrangeira em Moçambique.
As línguas indo-arianas também são usadas nos nomes das pastelarias e restaurantes indianos e nos seus respetivos menus. No caso de pastelarias, os bolos ou doces indianos são colocados em mostruários de vidro com os seus respetivos nomes. Vejam-se os exemplos nas fotos 10-13.




Nos mercados da cidade, e também em muitas mercearias e supermercados, há muitas especiarias indianas à venda, sobretudo das marcas Shan e Rajah que distinguem as paisagens linguísticas das prateleiras. Vejam-se algumas prateleiras de mercearias nas fotografias 14-15.
As especiarias merecem destaque, mas há outros produtos alimentares à venda. Na verdade, há cerca de quinze anos a importação de produtos alimentares da Índia vem aumentando gradualmente. Hoje há na cidade pequenas mercearias com uma grande oferta de produtos alimentares provenientes daquele país. Há também armazéns que vendem, a grosso e a atacado, uma grande gama de produtos alimentares, cosméticos, pastas dentífricas, etc. Alguns dos produtos têm etiquetas e informação de consumo em inglês, outros, têm essa informação apenas em hindi ou urdu. Vejam-se alguns exemplos nas fotografias 16-23.








Em contextos mais comunitários, onde há uma maior comunhão e afirmação identitária, podemos encontrar paisagens linguísticas mais ricas e variadas. Um bom exemplo é a Sede da Comunidade Hindú Bharat Samaj Ved Mandir, que faz um esforço notável para preservar a sua língua, cultura e identidade indiana. Nesta Comunidade, como ilustram as fotografias 24-25, existe uma biblioteca onde se podem encontrar livros e revistas escritas em hindi e em urdu.
Em conclusão, as línguas indo-arianas, particularmente o hindi e o urdu estão presentes nas paisagens plurilingues da cidade de Maputo, sobretudo nos nomes de estabelecimentos comerciais e em produtos alimentares e cosméticos. Em espaços de convívio religioso e cultural comunitário, as paisagens linguísticas incorporam outros elementos, nomeadamente mensagens informativas, revistas e livros.
Abril de 2021, Carla Maria Ataíde Maciel, Universidade Pedagógica de Maputo